Vitor Azevedo
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Junto com a queda acumulada de quase 10% da Bolsa neste ano, há um outro fator que vem chamando a atenção no mercado: a redução do volume negociado no Ibovespa. Em 2024, o nível de negociação no mercado à vista da B3 tem o menor patamar desde 2020.
De acordo com especialistas, uma série de fatores explicam o baixo volume de negociação na B3 em 2024. Entre eles ficam principalmente a saída do investidor estrangeiro, os juros mais altos nos Estados Unidos, o avanço da curva brasileira (DIs) e o aumento dos riscos político e fiscal.
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Conforme estudo da Elos Ayta, feito a pedido do InfoMoney, até maio, o valor médio, considerando o capital total movimentado e os dias de negociação, ficou em cerca de R$ 19,2 bilhões.
Levando em conta as médias mensais, nos primeiros dias de junho o volume de negociações sinaliza um recuo possivelmente ainda maior, para algo próximo a R$ 17,1 bilhão – o que configuraria o menor patamar desde outubro de 2020.
Já na comparação trimestral, até então, o segundo trimestre de 2024, com média de R$ 19,4 bilhões, fica atrás do primeiro deste mesmo ano, mas, fora isso, outro nível semelhante seria encontrado só no fim de 2019.
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“Durante os últimos cinco meses, o Ibovespa permaneceu praticamente estagnado, com baixa volatilidade e atividade de negociação moderada atingindo o menor nível de volume financeiro médio mensal do mercado a vista no mês de junho com R$ 17,0 bilhões em media negociados no mercado a vista. Esse valor este não era registrado desde outubro de 2020 e pode explicar a baixa volatilidade do Ibovespa”, diz Einar Rivero, CEO da Elos Ayta.
“A incerteza quanto à trajetória dos juros nos Estados Unidos ainda é bem grande. Não sabemos quando o ciclo de corte de juros vai começar. Parte do mercado acredita que possa iniciar em setembro, outra em dezembro”, as nossas expectativas estão mais ancoradas em dezembro”, diz Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
O fato de os juros nos Estados Unidos estarem altos mantém o capital longe da Bolsa brasileira, com investidores, principalmente o estrangeiros, preferindo a renda fixa norte-americana e deixando de buscar outras oportunidades — e de assumir maiores riscos, investindo em emergentes.
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Até agora, no ano, houve um fluxo saída de R$ 34,6 bilhões de capital internacional da B3, sendo R$ 1,6 bilhão só em maio.
Ainda falando do cenário externo, há também a visão de que as Bolsas americanas “estão compensando mais”. Com todo o hype da inteligência artificial, investidores continuam aportando em ativos de risco nos Estados Unidos, ignorando os juros altos, principalmente em ações tech, buscando exposição à nova tecnologia no longo prazo (o que explica, em parte, o fato de alguns dos índices estarem nas suas máximas históricas).
“Tem muito capital alocado nos ‘ativos do momento’, como Nvidia, Apple e Microsoft. Tem um dinheiro estocado nessas ações. E dado que a gente não tem quantitative easing [flexibilização monetária] como no passado, novo dinheiro sendo criado, esse fluxo global precisaria realizar lucro nessas ações para sair e ir para outro mercado”, comenta Enrico Cozzolino, analista da Levante.
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Cozzolino, contudo, menciona que os ativos brasileiros também estão descontados frente a outros emergentes. Usualmente, juros mais altos nos Estados Unidos e oportunidades nas bolsas norte-americanas tendem a minguar o fluxo para todos os países em desenvolvimento, com investidores preferindo a “segurança”. Essa discrepância do Brasil com os seus pares sinaliza o peso de problemas internos.
“Temos ruídos político causando uma incerteza adicional frente a outros emergentes. A gente tem um preço/lucro do MSCI emergentes em 12x, sendo que estamos muito abaixo disso”, explica o especialista da Levante.
Como fatores locais que estão pesando no volume de negociações, afastando investidores dos ativos de risco, especialistas apontam, por exemplo, problemas fiscais, a alteração na presidência da Petrobras (PETR4) e a proximidade da mudança da presidência do Banco Central.
No caso dos problemas fiscais, estão em destaque, por exemplo, a a revisão da meta de superávit para 2025. Fora isso, o governo brasileiro vem tentando compor sua receita pelo aumento dos impostos, mas encontra alguma resistência no Congresso a certas iniciativas, o que gera dúvidas quanto a como as contas públicas encerrarão 2024.
Já a mudança na presidência da Petrobras levanta um temor na mesma linha. A estatal, nos últimos anos, ajudou a compor o faturamento da União (sua maior acionista) com os dividendos. A leitura é de que a nova presidente, Magda Chambriard, possa deixar os proventos de lado, focando em investimentos, por ter uma visão mais desenvolvimentista. Fora isso, a mudança também foi interpretada pelo mercado como uma sinalização de que o Governo brasileiro está “tendendo a uma ala mais ideológica”.
Por fim, o temor de ganho de força da ala ideológica também pesa sobre a mudança da presidência do Banco Central, com o mandato de Roberto Campos Neto indo até o fim deste ano. O próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, já sinalizou diversas vezes descontentamento com os atuais níveis da Selic, e há o receio de que o seu futuro indicado possa cortar os juros de forma pouco ortodoxa.
“Todos esses riscos, essas faltas de clareza, geram o temor. São coisas que levam os investidores a pensar ‘não vale investir em Bolsa brasileira”, explica o especialista da Levante.
Além de pesar do lado do risco, esses fatores também impulsionam os juros brasileiros (que subiram em maio, a despeito do recuo dos americanos). Tanto os contratos privados quanto títulos públicos vêm, recentemente, trazendo taxas maiores, o que também afasta investidores da renda variável, mantendo capital na renda fixa.
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Vitor Azevedo