Saiba como investir em empresas menos famosas expostas a inteligência artificial – Valor Investe

30 de julho de 2023

Por Gabriela da Cunha e Nathália Larghi, Valor Investe — Rio e São Paulo

A corrida das empresas de tecnologia para desenvolver cada vez mais soluções de inteligência artificial (IA) generativa tem contribuído para a recuperação das bolsas americanas ao longo de 2023, e as companhias desse segmento têm sido vistas como uma boa oportunidade para os investidores.
Mas engana-se quem pensa que é só a fabricante de processadores e Nvidia, que se tornou conhecida nas últimas semanas por ter superado a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado, e as chamadas "big techs" que estão envolvidas nesse mercado. Analistas afirmam que companhias menos "glamourosas" e até mesmo empresas de setores “insuspeitos” podem se beneficiar dessa corrida pela IA.
E, embora nem todos saibam, muitas delas estão acessíveis para os investidores brasileiros, seja por meio de BDRs, que são espécies de espelhos de ações lá de fora, via fundos de investimento que investem no exterior ou até mesmo investimento direto na bolsa americana, algo que hoje se tornou muito mais simples.
Uma evidência de que a “tese da tecnologia” voltou a dar as cartas no mercado acionário é que enquanto o tradicional índice Dow Jones da bolsa americana sobe 3,6% neste ano até o dia 20 de julho, o índice Nasdaq 100 (onde geralmente estão listadas as ações de tecnologia), avançou mais de 40%.
É bem verdade que as FATAMGs (acrônimo dado ao grupo formado pelas gigantes da tecnologia Facebook, Apple, Tesla, Amazon, Microsoft e Google) ajudaram a puxar o Nasdaq para cima.
Algumas delas, inclusive, são apontadas pelos especialistas como boas oportunidades justamente por estarem na frente na corrida da inteligência artificial, como Microsoft, que avançou 45,32%, e Alphabet (dona do Google), que subiu 35,10%.
A fabricante do Windows tem participação na OpenAI, empresa fundadora do ChatGPT, e um acordo de exclusividade para implementação da ferramenta em seus softwares. O ChatGPT, para quem ainda não conhece, funciona como um robô de bate-papo (também chamado de chatbot), que têm a capacidade não só de responder perguntas, como também de elaborar textos, fazer cálculos e até escrever algoritmos em linguagem de programação.
A leitura de analistas de mercado, entre os quais os do J.P. Morgan, é que a ligação da Microsoft com o ChatGPT deve tornar o pacote Office ainda mais indispensável no dia a dia, e dará margem para aumentar o valor das assinaturas dos 64,8 milhões de usuários que a empresa tinha no terceiro trimestre fiscal.
Leia também: Microsoft sobe 4% em NY com ingração de IA no pacote Office
A dona do Google também está nessa corrida, mas um pouco atrás, segundo especialistas. A companha inclusive, acabou de lançar também na Europa e no Brasil o seu "concorrente" do ChatGPT, o chamado Bard.
Fora desses nomes conhecidos, no entanto, ainda existem outras oportunidades para o investidor que quer, de alguma forma, se expor – e quem sabe ganhar dinheiro na bolsa – com essa nova tecnologia.

Oportunidades de software

Uma dessas alternativas menos "glamourosas" é a Oracle. A empresa tem surgido como uma opção de baixo custo de computação na nuvem. Considerada por parte do mercado como uma possível quarta força neste segmento, ainda que bastante atrás das concorrentes AWS, Microsoft Azure e Google Cloud, a Oracle agradou com o balanço trimestral mais recente. Na esteira dos resultados, a companhia divulgou um plano de investimento em IA em três fases.
Leonardo Otero, socio-fundador da Arbor Capital, gestora de recursos independente, avalia que a empresa terá oportunidades de lucrar ao adicionar ferramentas de inteligência artificial para extrair o máximo de todos os seus softwares corporativos, que têm angariado alguns clientes importantes, como o Zoom, o TikTok e a Uber.
"A Oracle é uma empresa com a qualidade de receita recorrente e processo de crescimento de lucro em aceleração. Somado ao 'vento de cauda' vindo de IA, pode ser que a previsão de lucro seja revisada para cima", comenta.
Outro exemplo de negócio com potencial para monetizar as ferramentas de IA e usá-las a seu favor em aplicações voltadas para a própria base de usuários é a Adobe. Ao fazer atualizações do seu principal produto, o Photoshop, e aumentar a carga de inteligência artificial embarcada, a novidade agradou e contribuiu para a alta de 40% nas ações no ano.
Porém, tão importante quanto mapear as companhias, é entender no que, exatamente, se está aplicando. Eduardo Ibrahim, especialista em IA e Economia e autor do livro "Economia Exponencial", defende que o investidor investigue se, de fato, a inteligência artificial faz parte do “DNA” daquele negócio.
A visão é compartilhada por Arthur Siqueira, sócio e analista de investimentos da GeoCapital, gestora especializada em fundos de ações globais. “É difícil dizer o que vai acontecer nos próximos 12 meses, mas vai ser muito transformador. Por isso, é preciso saber se a empresa está usando a inteligência artificial para ampliar uma vantagem competitiva, se defender de alguma ameaça ou se a empresa está saindo da atividade fim em busca de um impacto marginal”, explica.
Ao ter essa percepção, o investidor tem capacidade, inclusive, para fugir de uma eventual "bolha" que se forme. Foi isso que aconteceu no começo dos anos 2000 com a bolha da internet (também chamada de bolha “pontocom"), quando houve um crescimento exponencial de investimentos em companhias nativas da web, mas que não tinham, necessariamente, um modelo de negócios sustentável.
No atual cenário, a Opera Software, empresa norueguesa que tem os recibos de ações (American Depositary Receipts, ADRs) negociados na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), é vista no grupo das especulações. A dona do browser Opera consegue se beneficiar de duas formas. Primeiro, captando a parcela de usuários de países mais pobres que não conseguem acompanhar os preços dos serviços do Google e da Microsoft. Em segundo lugar, também através da incorporação de ferramentas de inteligência artifical no navegador. Por outro lado, a empresa apresenta alguns pontos de preocupação com governança e o preço de mercado é considerado alto pela Arbor Capital.
Para a GeoCapital, “estar investido em empresas de qualidade é uma ferramenta para perpetuar um capital de longo prazo em instrumentos que geram riqueza real e em moeda forte. Quando há convicção de quais são os retornos potenciais que o investimento em IA pode gerar, o custo de oportunidade deixa de ser tão importante para o investidor".

Oportunidades "paralelas"

Saindo das empresas diretamente envolvidas com softwares de IA generativa, o investidor pode olhar para o grupo de “infraestrutura”. O banco UBS calcula que nos próximos dois anos a IA aumentará a demanda por chips especializados, conhecidos como unidades de processamento gráfico (GPUs), em até US$ 15 bilhões. Isso pode fazer dobrar a receita anual de área de data center da Nvidia, que responde por 56% de suas vendas. Mas não é só ela.
A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) domina o mercado de chips de última geração, e fabrica os principais processadores dentro dos iPhones da Apple, chipsets móveis Qualcomm e processadores fabricados pela Advanced Micro Devices (AMD). No 2º tri, teve queda de 23% no lucro em relação ao mesmo período do ano anterior com demanda fraca de chips. Ainda assim, é vantagem ter a ação, segundo a Arbor Capital.
"Por ser a principal empresa de manufatura de semicondutores do mundo ela é a 'picareta' na guerra do ouro: os movimentos tecnológicos de quem produz o melhor chip podem mudar, mas muito provavelmente eles terão que ser produzidos na TSMC. Vemos o valor da empresa no mercado, equivalente a 18 vezes o lucro, como adequado para quem é um monopólio global", sustenta a Arbor Capital.
A AMD, outra fabricante de chips e semicondutores, cujas ações subiram cerca de 57% entre janeiro e 20 de julho, deve lançar uma nova GPU ainda este ano. Um relatório da Bernstein Research destaca que "embora seja um jogador muito menor no jogo, a escala do boom da IA significa que a empresa está prestes a se beneficiar mesmo que receba apenas uma parte do dinheiro do mercado".
Na parte de cibersegurança, a Palo Alto Networks e CrowdStrike são as duas mais bem posicionadas, na visão da GeoCapital. “A IA foi catalisador para mais processamento de informações, mas também para mais transferência de dados via nuvens, o que gera novos cibertaques. Essas duas empresas se beneficiam por terem investido, ao longo do tempo, para atender a demanda crescente por defesa dos ecossistemas”, analisa Siqueira.
Ainda no âmbito de "oportunidades paralelas" estão empresas desenvolvedoras e administradoras de data centers. Também chamados de "centro de processamento de dados", esses locais armazenam os sistemas computacionais e os dados de uma empresa.
Companhias como a Equinix e a Digital Realty Trust viram a taxa de vacância em seus data centers ficar abaixo de 3% no segundo semestre de 2022. E isso foi o suficiente para as grandes gestoras de fundos imobiliários americanos, que desejam adicionar data centers aos seus portfólios de propriedades, entenderem que o setor tem novos rivais.
Desempenho das empresas de Inteligência Artificial no ano

Como investir nessas empresas?

Um das formas de diversificar o portfólio a partir da compra de ações estrangeiras é por meio dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são títulos negociados na bolsa brasileira (B3) e "espelham" ações de empresas como Google, Amazon, Oracle, etc.

Atualmente, além das "big techs", é possível que investidores brasileiros também comprem BDRs da Oracle, Adobe, Nvidia, AMD, Palo Alto Networks, CrowdStrike, Equinix e Digital Realty Trust.

Outro caminho é pelos ETFs (Exchange Traded Funds) que são fundos de gestão passiva que replicam índices de mercado. A partir deles, é possível encontrar um outro conjunto de ativos que tem chamado atenção: as empresas de armazenamento de dados.
Inclusive, as próprias Equinix e a Digital Realty Trust estão disponíveis para os investidores brasileiros por meio de ETFs de REITs (Real Estate Investment Trust), que são o equivalente aos fundos imobiliários brasileiros.
Os investidores também podem ter acesso a esses papéis por meio de fundos de investimento que têm em suas cestas ações e outros títulos do exterior. Porém, segundo a legislação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o investidor de varejo só pode aplicar em fundos que invistam até 20% do patrimônio no exterior, que podem ser ações, títulos de renda fixa, ETFs e etc.
Outra maneira de se investir nessas companhias é aplicando diretamente no mercado americano. Atualmente, existem no Brasil corretoras e plataformas que facilitam o investimento diretamente no exterior, como é o caso de empresas como a Avenue e a Stake. Essas empresas possibilitam que investidores brasileiros abram suas contas por aqui, normalmente no próprio aplicativo, e invistam diretamente no exterior, negociando as ações diretamente na bolsa americana.

Cuidados ao se investir

Frente às diferentes opções, seja qual for a escolha de alocação, a decisão do investidor deve procurar evitar se embasar apenas na euforia do momento. Mauricio Carvalho, diretor de engenharia da fintech Nomad, destaca que o segmento tech é muito volátil e, portanto, é preciso entender qual é o apetite a risco antes de entrar nele. "A ideia é seguir um viés fundamentalista e constante e não entrar no 'hype' (termo usado para o que está 'em alta' ou 'na moda')", afirma.
Siqueira, da GeoCapital, complementa: “o interesse por inteligência artificial é enorme pois impacta as ferramentas que vão estar disponíveis para o nosso viver. Mas a tradução disso para os investimentos é diferente. É preciso se questionar, por exemplo, se o valuation da empresa está justificado”.
O gestor cita a fabricante de chips Nvidia como um exemplo da discussão. A empresa atingiu a marca de US$ 1 trilhão em valor de mercado em maio. A maior parte dos analistas americanos aumentou as projeções de lucro por ação para os próximos dois anos fiscais em 60%, de acordo com a plataforma FactSet, mas o movimento não é unânime. Vale lembrar que a trajetória da companhia tem sido afetada por rumores de novas restrições dos EUA à exportação de chips para a China e alguns investidores aumentaram a cautela com papéis de inteligência artificial, destaca em relatório a Bernstein Research.
Na lista de aspectos a serem considerados também está a própria dinâmica da disrupção tecnológica. Em resumo, não é preciso ser um expert em inovação, mas estar ciente de que inversões na posição dos líderes podem acontecer por ferramentas que ainda nem se tornaram amplamente populares.
Isso fica claro em um relatório recém divulgado pelo Itaú BBA que apresenta os possíveis efeitos do avanço dos modelos amplos de linguagem (em inglês, Large Language Models). É o caso do LongNet, desenvolvido pela Microsoft e que em testes laboratoriais demonstrou capacidade de processar até 1 bilhão de tokens de uma só vez.
A percepção da equipe de analistas de tecnologia liderada por Thiago Kapulskis é que se a nova arquitetura de software entrar em escala comercial, pode ter um impacto significativo no ecossistema. "Se o LongNet se tornar popular, a demanda por hardware e processamento das GPU poderá diminuir à medida que a computação se tornar significativamente mais eficiente. O LongNet pode limitar o horizonte de nossa aposta positiva da Nvidia no longo prazo".
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Big techs inteligência artificial — Foto: Getty Images
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