Por Gabriela da Cunha, Valor Investe — Rio
O projeto do pix no Brasil tem sido uma pedra fundante para se pensar o trajeto do futuro do dinheiro. Em razão do produto, espécie de commodity bancária que permite transferência e compensação de valores 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias no ano, a circulação de dinheiro em espécie apresentou recuo em 2021, 2023, e dá sinais de seguir o mesmo caminho em 2024, apesar de alguns suspiros de força no uso de notas de valores menores. Mas, e o que vem depois?
O futuro do dinheiro tem sido bastante debatido. Há um consenso entre especialistas: o futuro é digital. Mas o formato ainda será ditado, e muito, pelo usuário.
No pano de fundo da discussão estão alguns dados do Banco Central, que mostram aquilo que todo mundo já percebeu: o Pix, considerado a principal forma de pagamento do Brasil desde 2021, cooperou, e muito, para a queda da circulação de dinheiro em espécie no país e para uma adesão ao dinheiro no meio digital.
Olhando para os números, em 2023, o recuo do valor do papel-moeda que transita pelo país foi de 0,2% em relação ao ano anterior: R$ 341,6 bilhões comparados a R$ 342,3 bilhões em 2022. Essa foi a segunda queda anual da história desde o início do Plano Real. Antes disso, a única queda de circulação de dinheiro físico havia sido registrada em 2021, quando houve o efeito atípico da pandemia de covid-19. Ao término do primeiro trimestre de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023, a quantidade de dinheiro físico transacionado diminuiu 0,3%.
O pix tem batido recordes atrás de recordes em volume de transações e também passa a ser usado como “meio de comunicação” – mais de 35 milhões de transferências por pix no valor de um centavo foram realizadas em 2023 como forma de teste ou de envio de mensagem, já que, ao efetivar a transferência, o pagador pode escrever uma mensagem de até 140 caracteres para o recebedor do valor -. Para que essa jornada digital seja possível, vias estão sendo pavimentadas há bem mais tempo.
Wagner Ruiz, cofundador e membro da diretoria do Ebanx, pontua que a trajetória do Brasil para que hoje o dinheiro digital seja uma realidade começou a ser construída ainda nos anos 1980, quando, no cenário de hiperinflação, os bancos precisaram investir maciçamente em tecnologia para garantir a emissão do dinheiro em espécie. A influência da tecnologia no modo como o brasileiro se relaciona com o dinheiro foi ampliada na década de 2010, quando houve a modernização do Sistema de Pagamentos Brasileiro, reconhecendo várias instituições financeiras, incluindo fintechs, como parte dessa relação.
Com isso, entre a ponta emissora do dinheiro e a ponta usuária dele, uma parcela significativa de fintechs se tornaram provedoras de tecnologia e serviços, para que a indústria financeira já existente e os negócios que estavam surgindo, como os bancos digitais, conseguissem atuar nesse ambiente de inovação. Agora, além do pix, o brasileiro começa a se adaptar à eventual implementação do chamado “Real Digital”, por meio da plataforma Drex.
“Tudo isso contribuiu para que nesse momento, no Brasil, o caminho do dinheiro seja digital. A tecnologia provocou uma mudança no modelo de negócio e investir no digital é garantir a vida das empresas. Não há outra alternativa senão avançar. Estamos vendo a digitalização do mundo, e o governo e as agências regulatórias do setor estão seguindo esse caminho. Quem não acompanhar esse movimento terá consequências”, disse durante o WebSummit Rio, evento de inovação global realizado recentemente no Rio de Janeiro.
Nessa pavimentação da evolução das soluções fiduciárias, aponta Ruiz, o investimento em inteligência artificial e computação na nuvem (cloud) tem sido crescente entre os bancos.
Os dados mais recentes da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2024, realizada pela Deloitte, indicam que o orçamento total dos bancos brasileiros destinados à tecnologia, englobando despesas e investimentos, deverá atingir, neste ano, R$ 47,4 bilhões, sendo que 100% dos bancos vão investir em cloud e 96% em inteligência artificial. O objetivo maior dos bancos (83% das empresas pesquisadas) dentro dessa agenda é a experiência do cliente.
Por ora, a experiência do cliente ainda é de complementaridade entre os serviços digitais e físicos (e talvez assim permaneçam por um bom tempo). Prova disso é que, apesar da circulação menor da quantidade de notas, a procura por notas de R$ 2, R$ 5 e R$ 10 também apresentou crescimento.
Segundo dados do Banco24horas, cujos terminais de autoatendimento atendem 159 milhões de pessoas diariamente em 24 estados, nos últimos 12 meses até março, foram movimentados R$ 2,25 bilhões em saques dessas notas. O montante indica um aumento de 2,6 vezes. No período analisado, o Estado de São Paulo foi onde mais notas de menor valor foram sacadas, seguido do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Rodrigo Maranini, coordenador de trade marketing e canais de distribuição do Banco24Horas, explica que as notas de menor valor “são a espinha dorsal do comércio local, em que o troco pode ser um desafio nos pequenos estabelecimentos”. As notas também têm um papel na inclusão financeira de brasileiros com acesso limitado a serviços bancários digitais, em sua avaliação.
Nesse cenário de transformação e evolução das tecnologias bancárias e das relações com o dinheiro, Ricardo Guerra, diretor de Tecnologia do banco Itaú, endossa que o pix trouxe uma nova dimensão sobre o dinheiro digital, mas a discussão sobre o que o cliente deseja é tão crucial quanto o debate de qual será o formato do dinheiro e a forma “vencedora” de transaciona-lo no futuro.
“Se recordarmos como foi o primeiro acesso à internet, entendemos que foi muito diferente do que é hoje. O mesmo deve ocorrer com o pix, que trouxe uma nova dimensão do dinheiro digital, mas deve mudar muito e rapidamente em breve. O pix é um produto amplo, e já estamos adaptando-o a novas necessidades, evoluindo para o crédito. Isso prova que as empresas que entenderem o que é necessário para atender aos clientes terão futuro”, pondera.
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