O dia de Débora de Freitas Mina, de 42 anos, é completamente preenchido pelo trabalho remunerado como empresária e pelos cuidados com a casa e com os filhos, Eduardo e Lara, de 16 e 10 anos, respectivamente. Assim como muitas empreendedoras brasileiras, Débora assume grande parte da responsabilidade com a família. Divorciada há 4 anos, é ela quem leva os filhos para a escola e realiza as tarefas domésticas, enquanto está à frente também da clínica de estética Encantar, Beleza e Bem-estar, em São Paulo.
Entre aulas de violão e teatro dos filhos, além de fisioterapia para o mais velho, Débora também administra a casa, ocupada ainda por mais dois moradores: um cachorro e um gato. “Eu fico na clínica das 12h às 20h, quando preciso estar direto com a cliente. Mas, fora o horário de atendimento, eu tenho que ter um tempinho para fazer as planilhas o controle de fluxo de caixa, para mandar mensagens paras clientes, checar se está tudo dando certo”, descreve. “Até as crianças me ajudam e têm algumas tarefas, eles são bem compreensivos nisso, eles já sabem que esse é o ritmo lá em casa”, conta a empreendedora.
O cotidiano atribulado, que é um desafio para a organização do tempo das mães empreendedoras, foi constatado em uma pesquisa recente do Sebrae. O estudo “Empreendedorismo Feminino” contabilizou a quantidade de horas destinadas a mais pelas mulheres que empreendem nos cuidados com pessoas da família e nos afazeres domésticos. Elas dedicam 3,1 horas aos cuidados familiares e consomem 2,9 horas do seu dia nos afazeres domésticos, praticamente o dobro dos homens, que gastam 1,6h e 1,5h, respectivamente, com essas atividades.
A desigualdade de gêneros fica clara em relação à sobrecarga com a jornada dupla: 76% das mulheres se sentiram mais sobrecarregadas e 61% já tiveram que deixar de fazer algo para si ou para a empresa para cuidar dos filhos, de idosos ou parentes. No outro extremo, esses resultados foram de 55% para os homens que se sentiram sobrecarregados e 48% para que os que afirmaram ter de sacrificar algo em favor dos filhos ou parentes.
Historicamente, as mulheres empreendedoras dedicam menos horas semanais ao empreendimento, assinala a pesquisa do Sebrae de novembro de 2023. A média fica em torno de 34 a 35 horas trabalhadas semanais, enquanto os homens que são empresários alcançam de 40 a 43 horas.
Mas sabemos que isso, no entanto, não quer dizer que as mulheres são menos dedicadas aos seus empreendimentos. Ao contrário. São elas as que mais despendem horas e horas para atividades domiciliares, também conhecido como ‘trabalho invisível’, o que acaba por subtrair da carga horária voltada ao negócio. Soma-se a isso o fato de que uma alta proporção de empreendedoras também acumula a posição de chefes de domicílio, o que, na prática, interfere nas atividades da empresa.
Renata Malheiros, gerente da Unidade de Empreendedorismo Feminino, Diversidade e Inclusão do Sebrae.
O programa Sebrae Delas oferece cursos, workshops e consultorias para mulheres de todo o país. A iniciativa incentiva, valoriza e acelera a jornada de mulheres que empreendem. Elas também participam de redes de mulheres, por meio das quais trocam experiências, falam dos desafios e buscam soluções. Somente em 2023, mais de 150 mil mulheres foram atendidas por meio de cursos, consultorias e mentorias para o desenvolvimento de competências emocionais.
Mãe, Summit 2024
Para além do Sebrae, as empresárias podem buscar caminhos adicionais de suporte para alavancar seus empreendimentos. É o caso da B2Mamy, socialtech que conecta mães em comunidade para que sejam líderes e livres financeiramente por meio de educação, networking, saúde e bem-estar. A cofounder e COO da plataforma, Bianca Levy, de 34 anos, explica que seus programas de aceleração são focados em startups fundadas e lideradas por mulheres e mães de diversos segmentos, com objetivo de capacitá-las com ferramentas e soluções para prototipar, validar e tracionar o seu produto/serviço.
Bianca revela que as maiores dificuldades relatadas pelas empreendedoras mães que utilizam a plataforma englobam a sobrecarga materna que reflete na gestão do negócio, junto com o trabalho invisível que pesa ainda mais sobre as empresárias, a falta de uma rede de apoio, o acesso a investimento e a networking, entre outros desafios.
As mulheres reduzem os ganhos financeiros após a maternidade, por consequência, o parceiro, quando presente, toma as rédeas financeiras da casa e coloca o negócio da mulher em segundo plano.
Bianca Levy, cofounder e COO da B2Mamy.
A B2Mamy é uma das realizadoras da segunda edição do “Mãe, Summit”, um evento que une o ecossistema de maternidade de todo o Brasil e que acontecerá no dia 9 de maio, em São Paulo. A programação inclui conversas sobre carreira e dinheiro, saúde da mulher, tecnologia e inovação. A experiência se completa com dinâmicas de networking e discussões de temas para aprendizado das participantes. O evento também terá um espaço kids com atividades para as crianças e com especialistas em desenvolvimento infantil, além de um happy hour de encerramento, como uma comemoração neste mês das mães.
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