Equipe InfoMoney
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Um pregão marcante após um anúncio também marcante, mas que gerou análises divergentes no mercado. As ações do grupo Casas Bahia (BHIA3) registraram forte alta na sessão desta segunda-feira (29), após a varejista anunciar na noite de ontem pedido de recuperação extrajudicial, citando dívidas de R$ 4,1 bilhões e que já conta com apoio do Bradesco e Banco do Brasil, seus principais credores. Os papéis abriram em alta de quase 20% após ficarem mais de 20 minutos em leilão e seguiram em disparada durante toda a sessão, fortalecendo os ganhos durante a tarde e fechando com disparada de 34,19%, a R$ 17,30. No ano até a sessão de sexta-feira (26), cabe ressaltar, BHIA3 caía 52,20%, a maior baixa do Ibovespa.
Analistas de mercado destacaram os dois lados do pedido de recuperação extrajudicial. Por um lado, a notícia é positiva, uma vez que dá mais fôlego financeiro para a companhia, enquanto os termos do acordo parecem favoráveis, bem como uma oportunidade de a empresa focar no seu plano “transformacional”. Por outro, pode levar a uma possível diluição ligada a conversão das dívidas em ação, enquanto a reação dos consumidores ao anúncio é um dos riscos a monitorar, conforme ressaltou a XP. O lado positivo, contudo, preponderou para os ativos na sessão.
Cabe ressaltar que o plano de recuperação extrajudicial precisa ainda ser aprovado pela Justiça. Gustavo Senday, analista de varejo no research da XP, que participou nesta segunda do Morning Call da XP, ressalta que quem acompanhou as últimas teleconferências trimestrais da Casas Bahia observou crescente preocupação da companhia em cumprir suas obrigações financeiras. “Era um assunto que vinha sendo bastante abordado pela companhia nos calls de resultados”, lembra. Para ele, o plano de recuperação extrajudicial dá mais conforto financeiro à companhia no curto prazo para executar ajustes operacionais, como fechamento de lojas e redução do nível de estoque.
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A dívida citada no pedido envolve as sexta, sétima e oitava emissões de debêntures a mercado e a nona emissão de debêntures “e certas CCBs emitidas junto a instituições financeiras”, afirmou a companhia em fato relevante. A companhia disse que o plano não envolve dívidas operacionais com fornecedores e parceiros e não impacta trabalhadores ou clientes.
O plano inclui alongamento de amortização de dívida, incluindo carência de 24 meses para pagamento de juros e de 30 meses para pagamento de principal. Além disso, a estratégia inclui possibilidade de credores apoiadores converterem parte de dívida em participação na empresa.
Segundo a Casas Bahia, o “reperfilamento” da dívida preservará cerca de R$ 4,3 bilhões no caixa da companhia nos próximos quatro anos. Além disso, o prazo médio da dívida sairá de 22 para 72 meses, com redução de 1,5 ponto percentual no custo médio, “que representa uma economia de R$ 400 milhões no período”, afirmou a empresa.
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A empresa afirmou em divulgação ao mercado que conta com apoio de credores detentores de 55% de sua dívida financeira sem garantias, o que, segundo a companhia, já permite a homologação do plano. Antes do acordo, a Casas Bahia teria pela frente este ano pagamentos de R$ 1,24 bilhão em amortizações e R$ 313 milhões em juros.
Agora, a empresa somente vai retomar os pagamentos a partir de 2026, com R$ 150 milhões em amortização e R$ 103 milhões em juros. Porém, terá pela frente em 2030 pagamentos de R$ 2,58 bilhões em amortizações e R$ 1,9 bilhão em juros.
De acordo com Senday, quanto aos riscos, o maior é a diluição potencial atrelada à opção dos credores de converter sua dívida em ações. Além disso, ressaltou os riscos juntos aos consumidores. “A gente tem visto hoje bastante notícia sobre o tema e isso pode impactar a confiança do consumidor, dele entrar na plataforma ou ir às lojas da Casas Bahia”, comentou.
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Segundo a Casas Bahia, o acordo “traz ainda mais confiança e segurança” a todos os fornecedores, parceiros, clientes e funcionários do grupo. “Este acordo, já aprovado por nossos principais credores financeiros, estava entre nossas metas prioritárias para o ano e, graças ao trabalho já feito até aqui, pudemos concluí-lo antes do previsto”, disse o presidente-executivo da Casas Bahia, Renato Franklin, em comunicado à imprensa.
Para o Bradesco BBI, os termos e valores propostos no plano de Recuperação Extrajudicial são significativos para proporcionar alívio: a empresa acabará por melhorar seu fluxo de caixa em R$ 4,3 bilhões nos próximos 4 anos – isso significa cerca de 8 vezes o valor de mercado atual da BHIA3 de R$ 517 milhões, cujo preço já incorpora a já amplamente conhecida estrutura de capital complexa e situação de fluxo de caixa da empresa.
O alívio de fluxo de caixa de R$ 1,5 bilhão para 2024, por exemplo, é superior ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) ajustado dos últimos 12 meses (R$ 1,2 bilhão).
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“No final das contas, esta medida traz uma importante margem de manobra para os fluxos de caixa de curto e médio prazo da Casas Bahia e, até certo ponto, diminui os riscos de preocupações com liquidez. É importante ressaltar que acreditamos que a administração da empresa pode agora ter um foco maior e fazer um esforço maior na execução do seu plano de transformação sem a distração de resgates significativos de caixa que acontecem no curto prazo. Em suma, consideramos positiva esta medida de gestão de passivos e esperamos ver a evolução dos fundamentos subjacentes da empresa, no seguimento do seu plano de recuperação”, avalia o BBI que, por enquanto, tem recomendação neutra para o papel.
Os analistas do Citi João Pedro Soares e Felipe Reboredo destacaram que o plano é importante para reduzir o serviço da dívida, mas há outras questões. “Ainda precisamos de ver melhorias mais claras na frente operacional para sermos mais construtivos quanto à capacidade da empresa de cumprir todo o serviço da dívida e desbloquear valor para os acionistas”, afirmaram em nota a clientes enviada após a teleconferência da empresa com analistas.
(Com Reuters)
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